Páginas

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A foto.

Quando discretamente eu abri aquele envelope, tinha certeza do que encontraria, claro que não da forma como era. Era uma foto. Nossa foto. Nossa, nem lembrava mais dela, tinha uns 3 ou 4 anos desde que fora tirada e esquecida completamente por mim. Essa foto já foi minha. Eu te dei. E você estava me dando ela novamente. Naquela ocasião tinha um toque todo especial, eu estava me mudando de cidade e não sabia quando voltaria a vê-lo. Junto a foto tinha um bilhete que ainda guardo, não com tanto carinho como guardo a foto.

O engraçado (ou não), é que esta foto é você, quando vou sair beijo o seu lado e digo, "oh meu querido, logo voltarei", e quando chego torno a beijar seu lado e digo cheia de graciosidade "estou de volta". Quando vou dormir, o ritual do beijo se repete e muitas vezes durmo agarrada a ela, nossa, isso é tristemente patético, quando acordo muitas vezes está um pouco amassada ou caída no chão. Aquilo me dói como se você, depois de uma das nossas muitas brigas, estivesse dormindo no chão frio.

Quando brigamos você não dorme comigo, dorme embaixo dos meus livros, como forma de punição por ter sido um garoto mau, por ter me deixado triste e sozinha nesse quarto solitário. Até pensei em perguntar a uma amiga que, se ela guardasse uma foto com tanto apego, isso era prova de paixão, mas acho que não, isso é apenas prova de má resolução dos problemas.

Sua foto está aqui e eu escrevo esse texto, escrevo olhando pra ela, já é madrugada, sei que quando acabá-lo você será minha única companhia, e eu não me importo por isso, é muito bom te sentir perto, mesmo que seja apenas numa foto, mesmo que ela acorde no chão frio. Meu ritual se repetirá como em todas as noites. Beijo seu lado e... "oh querido, boa noite".

- Bruna Santos

Um comentário:

  1. Uma ação triste, nostálgica e melancólica, mas que nunca chegaria de fato a ser patética.
    Talvez o cúmulo da auto - piedade.
    Mas patético? Não.
    É mais como uma ironia. Um flagelo.Um sentimento agridoce.
    Sem falar que porque eu de tantos mortais poderia abrir minha boca pra falar algo? Sei bem como é viver de passado.
    As palavras mexeram com algo em mim.
    Senti,subitamente, um gosto amargo na boca.
    Acho que a boa e velha solidão.

    ResponderExcluir