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segunda-feira, 12 de março de 2018

Harpia-Parte 3


O final do show do Capital Inicial estava tumultuado. Na verdade, todo o show estava tumultuado. Fazia anos que a banda de Brasília não vinha na cidade e ninguém poderia perder essa oportunidade. Logo, era de se esperar uma casa lotada mesmo que em plena terça- feira. As últimas músicas já ditavam o tom de despedida da banda.
Fabiana estava em um misto de sentimentos, ainda estava stressada pelo início de semana caótica, queria espairecer um pouco e o show caiu como uma luva. Mas se sentia uma forasteira por não ver ninguém conhecido, visto que seus amigos de 40, 50 anos agora preferissem ficar em casa ou se limitar a barzinhos e cinemas onde tem lugares para sentar. Mesmo que o show tocasse músicas da sua época. Ao mesmo tempo, isso pouco importava, Fabiana estava em pleno êxtase,  claro que o efeito da cocaína no cérebro fazia toda a diferença. O incomodo de estar sendo observada por uma loira há uns 15 minutos já estava se transformando em curiosidade. Apenas encostada na parede, ela apenas observava Fabiana fixamente, sem nem disfarçar o interesse. De alguma Forma, parecia alguém distante, uma ex namorada, talvez. Estava alta demais pra lembrar. A plateia estava alucinada ao som de “À Sua Maneira”, mas para Fabiana- e talvez para a loira desconhecida- só havia elas duas ali. Fabiana se sentiu uma menina de 20 anos de novo e caprichava na dança, afinal, não podia perder essa oportunidade, não era todo dia que uma mulher mais nova demonstrava tanto interesse que não fosse para conseguir algum emprego ou alguma empregada “puxando o saco” querendo mantê-lo.
Num momento em que Fabiana girou o corpo, não se sabe se foi ela que estava lenta com a parte da música ou se a desconhecida tem algum poder de teleporte, mas o fato é que de repente estavam frente-a-frente. A loira apenas manteve um sorriso cativante e venenoso. Mas o que Fabiana não pôde deixar de reparar era em seu olhos. Tinha algo de firme neles. Algo desafiador, ameaçador, até. Apesar de novos, tinham muita história, e algo familiar. Ela já viu aquele olhar antes. Havia algo selvagem neles, algo como uma...
-Você! É Voc..
Um beijo dado pela loira interrompeu o raciocínio, a música ainda rolava, a multidão ainda agitada e Fabiana queria gritar, sair correndo. Mas seu corpo entorpecido não obedecia, já não estava obedecendo na verdade... O terror do momento foi se apagando com algo fino perfurando a área do rim e o mundo foi se apagando junto com o final da música.