Páginas

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Ukufa Parte 2


Cinco minutos depois e Fábio ainda lutava para acreditar no que tinha acabado de ouvir. Cinco minutos atrás Fábio queria saber quem era o garoto estranho dentro da sua casa. Agora ele nem sabia se o garoto era realmente um garoto ou se era realmente uma pessoa. 
-Sente-se Fábio. Você ainda está em processo. 
Era só o que ele queria. Sentar. Sentar e esquecer tudo. Agora ele só quer voltar a vida normal e seguir vivendo. Mas as palavras que o  garoto estranho pronunciara a cinco minutos só agora estão arrumadas de forma a fazer sentido racional e que as palavras 'normal" e "vida" não se aplicam mais. Explicações. Ele precisa de explicações. Tem que ter uma explicação. Mas pra isso ele tem que pedir. Oito quilos de coragem para pronunciar as palavras:
-E-então estou morto...
-Sim. 
-E não tem volta.
-Não. 
-Como foi? Porquê eu não me lembro?
O garoto, sempre calmo e sorridente, teve toda a paciência do universo para explicar a Fábio o que houve:
-Acontece muito Fábio. Principalmente casos como o seu. Foi muito rápido e sua mente não teve tempo de assimilar a situação. Como a mente e o espirito são uma coisa só, você seguiu normalmente acreditando estar vivo. Pense que é como se você tivesse reiniciado... 
- ... mas sem o Hardware, entendi. Fábio não podia deixar de achar graça na situação. Amante de computadores desde criança e o garoto estranho faz analogia justamente a algo que ele domina tão bem. mas uma pergunta não podia deixar de ser feita:
- Mas pra onde eu vou agora?
- É aí que está. Tenho outra coisa pra te dizer. Você vai me substituir.
se não estivesse sentado Fabio ia de novo procurar um lugar pra cair. Como se não bastasse a noticia de sua própria morte agora ele vai...
-Eu vou matar pessoas???
- hahaha.. Não Fábio você não vai matar ninguém. Você vai garantir a Harmonia. só isso. 
- Mas que harmonia? E que papo é esse de não matar? Se eu sou a morte eu vou matar!!  
o garoto não pôde disfarçar como achava que aquela conversa era de certa forma divertida.
-Fique tranquilo, vou te explicar com calma. Uma pergunta de cada vez. Harmonia é o processo das coisas naturais, tudo precisa de Harmonia, seu corpo, por exemplo, possui células, muitas dessas células precisam morrer para dar lugar para outras novas trabalharem. Isso é Harmonia. Mas você não vai precisar matar ninguém. Não é assim que funciona. Você será o Guia. Resumindo você vai fazer...
-O que você está fazendo comigo agora. Mas... porquê eu?
-Harmonia Fábio, acabei de te explicar. Isso ocorre com tudo, tudo mesmo. Plantas, animais, estrelas... até divindades passam pelo processo. Por isso que o mundo muda, ideias mudam, valores mudam. O Guia precisa mudar também, hoje sou eu. Um dia você será substituído também. A Harmonia não tem um porque, tem um propósito, e o propósito da Harmonia é que a Vida continue existindo.
Fábio queria assimilar tudo. Era pouco tempo com aquele garoto estranho mas agora havia a sensação de uma certa familiaridade, como se conhecessem de algum tempo. As dúvidas que estalavam na mente, à medida que iam sendo explicadas iam se esvaindo, e Fábio sentia como se seu HD estivesse sendo formatado e novos softwares sendo instalados. Era uma sensação, apesar de estranha, boa. Já era possível aceitar a sua nova condição. O garoto parecia perceber isso e já se preparava para ir.
-Vejo que entendeu tudo. Na verdade você já estava entendendo antes de eu chegar.
-Como assim?
- Por quê você voltou pra casa?
De inicio Fábio não entendeu a ideia, mas  a pergunta trouxe à memória quando ele de repente resolveu voltar pra casa, sua súbita vontade de se afastar de tudo e de todos, a casa no campo e a maciera...
-E-eu não sei bem que queria vir pra casa porquê não lembrava pra onde ia e quis voltar porquê aqui é...
-Tranquilo. Aqui é o seu refúgio, aqui você sente paz, aqui ninguém te enche o saco né? Chama-se Processo. Você abandona tudo e vai pro seu lugar favorito. Acontece muito em casos como o seu.
-Entendi. Mas espera aí, porquê você disse que estava atrasado?
-Hahahaha entrada triunfal, gosto muito de fazer isso. É legal ver a expressão de estranheza da pessoa. Você poderia experimentar. Acho que o que eu mais sentirei falta. Mas agora preciso mesmo ir e você tem trabalho.
-E pra onde você vai? o que você fazia antes de ser... hã... Guia? E é assim? Eu já começo?
-Sobre pra onde vou e de onde vim conversamos se nos encontrarmos de novo Fábio. Alguns mistérios são legais de manter. E Sim. É assim que começa. Daqui a 10 minutos para ser mais exato. Você já sabe o que precisa pra começar. A continuação agora é com você. Quando eu sair você vai saber pra onde ir e o que fazer. Você vai se sair bem. Gostei de ter te conhecido.
E com essas palavras o garoto estranho, levantou, saiu e fechou a porta, Fábio queria perguntar o nome  e a idade dele, a quanto tempo ele era o Guia, mas sabia que ele não ia responder, porquê alguns mistérios são legais de manter. E, como prometido, assim que a porta bateu, Fábio ainda sentado, fechou os olhos. E viu tudo. Todas as células do seu corpo, as permanentes, as que estavam morrendo e nascendo agora, as pessoas da sua cidade, do mundo inteiro, toda a História humana ou não, plantas, animais, guerras, desastres e logo ele viu o universo e em exatos 9 minutos ele viu a Harmonia e tudo ficou claro. Um pouco de concentração e sua primeira visita estava agendada. Ele não deixou de rir com a ironia da situação. Se o garoto estivesse ali eles provavelmente iriam rir juntos, se é que ele não etá rindo agora. Sem mudar sua posição e com um piscar lento de olhos, logo ele estava sentado no galho de uma maciera balançando as pernas sobre a cabeça de uma jovem sentada pensativa que não percebeu sua presença ali. "uma entrada triunfal" ele pensou. Sorrindo e sem se mover usou as melhores palavras que encontrou:
-Oi Lu.


terça-feira, 10 de junho de 2014

E com vocês...



CEGUEIRA O poeta em face do espinho Fura o olho pra ver se nunca viu, Sente a dor pra sentir se já sentiu Pois perguntas lhes formam o caminho. Quem o vê vai o ter por coitadinho Ou um louco buscando a cegueira, Mas jamais saberão se é verdadeira A beleza das flores perfumadas. Já ao cego poeta são mostradas As reais dimensões da flor que cheira. Romildo Alves