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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Yin Yang



Sentado em um banco de Praça, o Guia sentia uma tranquilidade enquanto garantia o cumprimento da sua função. Com o tempo foi aprendendo como era fácil trabalhar e descansar ao mesmo tempo já que ele, como todos os outros, pode estar em vários lugares ao mesmo tempo. Ainda que cada serviço tenha a sua importância, o Guia tinha uma preferência em guardar alguns na memória. Nesse momento mantinha uma atenção especial no senhor que acreditava ser um pinguim em outra vida, na moça que acreditava que só virgens iam pro céu e se matou para conter seus impulsos sexuais, no habitante de um planeta do lado oposto ao da terra que se perdeu tentando achar o sentido da vida,  no garoto que fugiu de casa porquê queria se tornar herói, numa infinidade de células de uma zebra moribunda que lutavam para mantê-la vida sem sucesso... cada ser ia para o lugar onde melhor lhe cabia. O lugar que eles mesmos construíam em suas mentes, conscientes ou não. Mesmo não se envolvendo de forma emocional, Fábio se permitia simpatizar com essas e algumas outras histórias. Ele sentia que dessa forma, compreendia a consciência humana e enxergava cada história como única. Ele não gostava de medir tempo para as coisas, por isso, não fazia ideia se eram meses, anos ou séculos que aquele garoto estranho apareceu na sua casa falando estranhezas sobre morte. Mas o fato era que ele se sentia bem mais maduro à medida que foi conhecendo outros como ele. Porém, desde o encontro com Caos e Destino uma pergunta nunca saía da mente dele: "será que eu tenho um gêmeo? Nunca se preocupou em buscar ávidamente essa resposta. Ele sabia que viria. Ou não. E a moça que vinha em sua direção mostrava pra ele que esse dia era hoje. Alta, morena com um olhar sereno e ao mesmo tempo penetrante se aproximou e sentou-se ao seu lado:
- Demorei?
Não importa quanto tempo tenha de "vida" ou quantos encontrará, o Guia nunca sabia o que esperar daquele tipo de conversa, mas ele aprendeu muito ao longo do tempo e uma certeza ele já tinha:
- Não, você chegou exatamente no momento certo.
- Presumo que você já sabe quem eu sou.
- Meu Gêmeo. a minha dúvida agora é saber o seu nome.
- Sempre objetivo e afoito por respostas. sempre gostei disso em vocês Guias.É isso que torna vocês tão interessantes e tão necessários. Mas me diga, como você está? Digo, o seu tempo de Guia o que você acha de tudo isso?
Fábio percebeu que a mulher não respondeu a sua pergunta. Em vez disso o abordou com outra. Ironicamente ele, quando humano, odiava dar satisfações da sua vida, especialmente a estranhos. mas ela não é uma estranha. Levou um tempo para entender o "tudo isso" e não teve pressa em pensar na resposta pois sabia que poderia ficar mil anos e ela ainda estaria lá olhando para ele e esperando. Mas ele só precisou de alguns segundos:
- Ás vezes gostaria que os humanos pudessem saber de tudo. Do seu verdadeiro potencial, o universo tão grande e cheio de vida, civilizações com bilhões de anos à frente e outros começando agora enquanto eles desperdiçam suas energias com coisas tão frívolas. Só aqui na Terra a autodestruição é tão banal. A mesma espécie se mata apenas por serem de lugares diferentes, de opniões diferentes, e até por beijarem pessoas diferentes... e com a mesma energia que poderiam usar para criar tanto...
A moça olhava para ele com atenção e sorria um sorriso triste, entendendo as palavras e o pensamento de Fábio. Ele, por sua vez não sentia tristeza, só não compreendia, sempre em dúvida e questionando, E como Gêmeo, ela estava lá para responder:
- Você não é o primeiro nem o único com essa dúvida irmão, cada ser vivo tem suas características únicas e os humanos não são exceção. Você sabe além dos humanos apenas mais duas raças podem criar o lugar para onde vão depois de morrer. Se apenas os Klar podem nos ver, só os humanos possuem o sentimento conhecido como saudade. E você sabe a importância disso para eles mesmos e para a Harmonia. inclusive, prazer...
 -...Harmonia.

Dedicado à Angelo Riccell Piovischini e Dióne Neiva. 

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