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terça-feira, 25 de junho de 2013

João...

João é um homem muito severo. Aliás, Dr. João como prefere e exige ser chamado. Ninguém entende por qual motivo ele age desse jeito, sempre muito curto e grosso em suas respostas. É uma figura muito respeitada e temida em sua empresa. Tem uma bela família, duas filhas já formadas em medicina e uma esposa muito bonita e respeitada por todos.

Na verdade, o motivo dele ser assim, tem a ver com o passado dele, um passado infeliz e cruel que nunca será esquecido por ele. Outro dia desses, numa conversa que tivemos, ele relembrou.

João nunca tinha se esquecido de Lu. Eles haviam se conhecido num desses protestos que a gente entra quando é jovem, que aconteceu em 2013 e desde aquele dia, ele nunca mais teve notícias de Lu. Já se passaram 20 anos e ele nunca mais a viu.

Lembro como se fosse hoje, estávamos na manifestação, usando branco, com o rosto pintado, cartazes nas mãos e fugindo, fugindo de uma confusão que tinha acontecido, eles se encontraram, paramos de correr pra prestar socorro a ela que estava caída e chorando.

Paramos pra ajudar, mas nunca pensei que João fosse se apaixonar por ela. Paixão a primeira vista e, coitado, aquilo decidiria para sempre sua vida. João se apaixonou por Lu, se preocupou com os ferimentos que tinha pelo corpo todo. Pobre menina!

Nossa mãe estava nos esperando pro jantar, mas não poderíamos ir sem ajudar Lu. Ela disse o nome dela em meio aos soluços, chorava tanto que dava pena. João em todo tempo segurava ela, protegia ela da confusão que só crescia. Logo vi que alguma coisa tinha mudado na atitude de meu irmão.

Uma fumaça cobriu a gente, acabei me perdendo dele, mais tarde quando ele chegou em casa, bem mais tarde, devo ressaltar, ele me contou o que acontecera.

A fumaça nos cobriu e ele levou a moça para um outro lado, enquanto ajudava ela a ficar calma, ela agradeceu tamanha gentileza e ele disse que estava disposto a protegê-la sempre. Eles conversaram durante longo tempo e ela contou que morava no interior de São Paulo e que estava na Bahia passando férias. João contou que fazia administração, que logo se formaria e que podia fazer algum concurso lá pros lados de São Paulo.

Conversaram como se já se conhecessem há muito tempo, fizeram planos. E, parece que ela também se apaixonou por ele e por seu jeito solícito.

Mas, no meio da conversa, antes de trocarem quaisquer informações, a confusão aumentou, uma fumaça maior cobriu eles, tiros foram ouvidos e ela sumiu. Simplesmente sumiu. Sumiu como se nunca estivesse existido. De uma hora pra outra, toda aquela beleza estonteante, aquela graça de menina sumiu.

João procurou ela por dias, semanas e meses. Eu ajudei e muitas vezes peguei ele chorando na frente do computador. Nunca vi meu irmão assim. Não entendo como em tão poucas horas, ele se apaixonou e levou essa paixão a sério. Não sabemos se ela procurou por ele também, o que sabemos foi que ela sumiu.

Talvez isso seja muito pouco pra ele agir da forma que age, mas, o pior é sempre viver na esperança de que quando ele estiver no trânsito, no supermercado, na fila do cinema ou do teatro lá em São Paulo, vai encontrar Lu.



-Bruna

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