O Voo
Sentada na poltrona
419, fitando outros aviões através da janela, Lisa Thompson se questionava o
porquê daquele número uma vez que o avião era ligeiramente pequeno.
Na verdade havia
muitas coisas estranhas naquele avião, como a estrutura das poltronas, por
exemplo, que ao invés de serem organizadas em trios eram organizadas em duplas.
A pequena TV da poltrona da frente não ligava para que ela pudesse usufruir dos
programas de entretenimento e música. O tamanho do avião era estranho também,
pois exteriormente era do tamanho de um Boeing, mas o interior se assemelhava a
um pequeno avião particular.
Assim que alguma
comissária de bordo se apresentasse, ela procuraria suas respostas.
− Lisa?
Ela virou o pescoço
para ver o corredor;
− Henry! Que bom
vê-lo! – saudou ela ao ver seu ex-colega de trabalho.
Ela saíra de seu
antigo emprego há dois meses e ele ainda trabalhava lá. Tinham uma relação
formidável no trabalho.
− Como você está? −
Perguntou ele sentando-se ao seu lado.
− Estou ótima! Você
vai viajar aí?
− Sim! Minha
poltrona é a 420.
Antes que Lisa pudesse comentar a estranheza com relação aos números das
poltronas, o avião deu a partida. Ele correu pela pista e levantou voo. O nariz
erguido pra cima, pronto para rasgar os céus.
− Henry...
− O que foi?
− Estou com medo.
Henry segurou sua
mão. Por uma fração de segundo, Lisa sentiu seu coração bater como nos tempos
em que trabalhavam juntos, mas reprimiu os sentimentos novamente ao ver na mão
dele a aliança dourada. Nunca conhecera a mulher dele, nem mesmo sabia seu
nome, mas Lisa sabia que ele era casado.
− Tem medo de voar?
− Não, não é isso. É
que nenhuma comissária passou por nós pra conferir os cintos e tudo o mais, não
vieram às orientações formais sobre segurança, o piloto não falou conosco...
Tem alguma coisa errada.
− Sinceramente, acho
um saco aquela vozinha robótica dando essas instruções. Nem me faz falta.
− Mesmo assim
Henry...
− Lisa, relaxa! Daqui
a pouco nós chegamos, o importante é que estamos bem e...
− FOGO!!!!
Henry se calou, Lisa se pôs de pé, mas caiu sentada com uma guinada que o avião
deu.
O berro viera do meio
do corredor no polo oposto. Um passageiro dizia ver fogo na asa do avião e o
pânico se espalhava por quem constatava tal informação.
Henry estava pálido e
em choque, Lisa chorava mas não gritava, somente pedia a Deus que não a
deixasse morrer.
O avião começou a
perder altitude.
− Todo mundo calado! – berrou alguém
que estava em pé no corredor do avião.
Lisa se aprumou em
sua poltrona e viu que o homem tinha uma arma em sua mão.
− Se vocês ficarem em
pânico não vai adiantar nada! Berrou o homem que segurava a arma.
Henry estava chorando
agora. Em desespero.
Lisa se perguntava
como aquele homem entrara no avião armado, a segurança nos aeroportos era
extrema e ele certamente passara pelo detector de metais antes de entrar no
avião.
Mas Lisa não se
lembrava de ter passado pelo detector de metais. Na verdade ela nem se lembrava
de ter feito o check-in e nem de pra onde estava indo. Não lembrava-se nem
mesmo de onde estava vindo.
− Henry... Henry olha
pra mim!
− Eu não quero morrer
Lisa! Eu não quero morrer! Minha mulher... ela está grávida, Lisa! A Christine
vai ter um bebê! Eu não quero morrer! – as lágrimas lavavam seu rosto.
O nariz do avião
inclinou-se para baixo... era uma questão de instantes para colidir com o solo.
− Henry, por favor!
Me responda: Para onde este avião estava indo?
− Para Londres, Lisa!
Eu não posso morrer!
− Henry! Por favor,
olha pra mim! Isso não é real! Estamos sonhando! Quando esse avião colidir com
o chão, vamos acordar em nossas camas, entendeu?
Henry fitava Lisa
atônito. Que loucura era aquela?
Lisa não via outra
explicação. Aquilo tudo não fazia sentido. Não podia ser real. Nada naquele
avião fazia sentido algum.
− Que loucura é essa
Lisa?
− Me diga: Você se
lembra de ter feito o check-in? De ter passado do aeroporto pra cá?
− Sim! Eu me lembro!
A atendente do balcão inclusive era de aparência oriental... eu passei por uma
livraria também antes de embarcar...
De repente a teoria
que Lisa havia concluído perdera o sentido. O avião mergulhou com tudo rumo ao
chão e o desespero de Lisa aumentou. Iria morrer, as pessoas naquele voo não
estavam sonhando. Mas... e se somente ela estivesse?
Então houve
fogo. O rosto de Henry desesperado foi a ultima visão de Lisa antes de eles
serem consumidos pelas chamas.
Lisa acordou.
O
relógio digital da mesa de cabeceira da sua cama indicava que eram 4:19 da
manhã. Estava muito suada e a respiração era ofegante. Agradeceu a Deus por ser
apenas um sonho. Por estar em terra firme, por estar sã e salva em Nova Jersey.
Pegou seu celular,
tinha o número de Henry e discou. Estava tão impressionada que não se importou
com o horário.
− Alô? – atendeu uma
mulher.
− Christine...? –
arriscou Lisa.
− Sim, e você, quem
é?
− Sou Lisa, seu
marido e eu trabalhávamos juntos, ele está?
−
Não, ele acabou de sair para uma reunião em Londres, disse que pegaria uma
carona no jatinho do seu chefe....
Lisa verificou as horas novamente. 4:20.
Raphael Costa
http://canecadehistorias.blogspot.com.br/2014/08/o-voo-sentada-na-poltrona-419fitando.html
Nossa, q incrível! Caraça, me prendeu até o final, ansiosa para saber o q tinha acontecido!
ResponderExcluirRaphael, sou uma mãe orgulhosa!!
E aos meninos do blog, bjo :*
Eita garoto talentoso! Muito bom, Raphael ^_^
ResponderExcluirObrigadooo!!! ^_^
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