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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

E com Vocês...

O Voo


Sentada na poltrona 419, fitando outros aviões através da janela, Lisa Thompson se questionava o porquê daquele número uma vez que o avião era ligeiramente pequeno.
Na verdade havia muitas coisas estranhas naquele avião, como a estrutura das poltronas, por exemplo, que ao invés de serem organizadas em trios eram organizadas em duplas. A pequena TV da poltrona da frente não ligava para que ela pudesse usufruir dos programas de entretenimento e música. O tamanho do avião era estranho também, pois exteriormente era do tamanho de um Boeing, mas o interior se assemelhava a um pequeno avião particular.
Assim que alguma comissária de bordo se apresentasse, ela procuraria suas respostas.
− Lisa?
Ela virou o pescoço para ver o corredor;
− Henry! Que bom vê-lo! – saudou ela ao ver seu ex-colega de trabalho.
Ela saíra de seu antigo emprego há dois meses e ele ainda trabalhava lá. Tinham uma relação formidável no trabalho.
− Como você está? − Perguntou ele sentando-se ao seu lado.
− Estou ótima! Você vai viajar aí?
 − Sim! Minha poltrona é a 420.
            Antes que Lisa pudesse comentar a estranheza com relação aos números das poltronas, o avião deu a partida. Ele correu pela pista e levantou voo. O nariz erguido pra cima, pronto para rasgar os céus.
− Henry...
− O que foi?
− Estou com medo.
Henry segurou sua mão. Por uma fração de segundo, Lisa sentiu seu coração bater como nos tempos em que trabalhavam juntos, mas reprimiu os sentimentos novamente ao ver na mão dele a aliança dourada. Nunca conhecera a mulher dele, nem mesmo sabia seu nome, mas Lisa sabia que ele era casado.
− Tem medo de voar?
− Não, não é isso. É que nenhuma comissária passou por nós pra conferir os cintos e tudo o mais, não vieram às orientações formais sobre segurança, o piloto não falou conosco... Tem alguma coisa errada.
− Sinceramente, acho um saco aquela vozinha robótica dando essas instruções. Nem me faz falta.
− Mesmo assim Henry...
− Lisa, relaxa! Daqui a pouco nós chegamos, o importante é que estamos bem e...
− FOGO!!!!
          Henry se calou, Lisa se pôs de pé, mas caiu sentada com uma guinada que o avião deu.
O berro viera do meio do corredor no polo oposto. Um passageiro dizia ver fogo na asa do avião e o pânico se espalhava por quem constatava tal informação.
Henry estava pálido e em choque, Lisa chorava mas não gritava, somente pedia a Deus que não a deixasse morrer.
O avião começou a perder altitude.
− Todo mundo calado! – berrou alguém que estava em pé no corredor do avião.
Lisa se aprumou em sua poltrona e viu que o homem tinha uma arma em sua mão.
− Se vocês ficarem em pânico não vai adiantar nada! Berrou o homem que segurava a arma. 
Henry estava chorando agora. Em desespero.
Lisa se perguntava como aquele homem entrara no avião armado, a segurança nos aeroportos era extrema e ele certamente passara pelo detector de metais antes de entrar no avião.
Mas Lisa não se lembrava de ter passado pelo detector de metais. Na verdade ela nem se lembrava de ter feito o check-in e nem de pra onde estava indo. Não lembrava-se nem mesmo de onde estava vindo.
− Henry... Henry olha pra mim!
− Eu não quero morrer Lisa! Eu não quero morrer! Minha mulher... ela está grávida, Lisa! A Christine vai ter um bebê! Eu não quero morrer! – as lágrimas lavavam seu rosto.
O nariz do avião inclinou-se para baixo... era uma questão de instantes para colidir com o solo.
− Henry, por favor! Me responda: Para onde este avião estava indo?
− Para Londres, Lisa! Eu não posso morrer!
− Henry! Por favor, olha pra mim! Isso não é real! Estamos sonhando! Quando esse avião colidir com o chão, vamos acordar em nossas camas, entendeu?
Henry fitava Lisa atônito. Que loucura era aquela?
Lisa não via outra explicação. Aquilo tudo não fazia sentido. Não podia ser real. Nada naquele avião fazia sentido algum.
− Que loucura é essa Lisa?
− Me diga: Você se lembra de ter feito o check-in? De ter passado do aeroporto pra cá?
− Sim! Eu me lembro! A atendente do balcão inclusive era de aparência oriental... eu passei por uma livraria também antes de embarcar...
De repente a teoria que Lisa havia concluído perdera o sentido. O avião mergulhou com tudo rumo ao chão e o desespero de Lisa aumentou. Iria morrer, as pessoas naquele voo não estavam sonhando. Mas... e se somente ela estivesse?
        Então houve fogo. O rosto de Henry desesperado foi a ultima visão de Lisa antes de eles serem consumidos pelas chamas.
         
             Lisa acordou.
          O relógio digital da mesa de cabeceira da sua cama indicava que eram 4:19 da manhã. Estava muito suada e a respiração era ofegante. Agradeceu a Deus por ser apenas um sonho. Por estar em terra firme, por estar sã e salva em Nova Jersey.
Pegou seu celular, tinha o número de Henry e discou. Estava tão impressionada que não se importou com o horário.
− Alô? – atendeu uma mulher.
− Christine...? – arriscou Lisa.
− Sim, e você, quem é?
− Sou Lisa, seu marido e eu trabalhávamos juntos, ele está?
         − Não, ele acabou de sair para uma reunião em Londres, disse que pegaria uma carona no jatinho do seu chefe....
               Lisa verificou as horas novamente. 4:20.

Raphael Costa
http://canecadehistorias.blogspot.com.br/2014/08/o-voo-sentada-na-poltrona-419fitando.html



3 comentários:

  1. Nossa, q incrível! Caraça, me prendeu até o final, ansiosa para saber o q tinha acontecido!
    Raphael, sou uma mãe orgulhosa!!
    E aos meninos do blog, bjo :*

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  2. Eita garoto talentoso! Muito bom, Raphael ^_^

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