Páginas

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Alice


Eram 5:30 da manhã quando Alice vestiu-se e saiu da casa de Carlos deixando para trás apenas o aroma do seu perfume francês barato que ela sabia o quanto ele adorava e que ela sabia que em pouco tempo iria desvanecer-se como a vida do policial em suas mãos. "Desculpe querido", disse quando passou suavemente seus dedos pelo rosto do cadáver, "nada pessoal, foi preciso". Já passeando pela calçada, Alice sorria com a doçura de uma criança e com a malícia de de uma serpente pós-bote. Certificou-se que ninguém a viu nem quando entrou aos beijos com Carlos nem quando saiu furtivamente sem ele. Na sua mão estava bem seguro um belo anel dourado com um quadrado desenhado cujo interior havia um círculo com um ponto. Carlos não sabia e nem poderia saber. O adorno que depois de tanto tempo voltou para as suas mãos era um dos seus bens mais valiosos. Ainda tinha a leve lembrança de quando foi-lhe dado pela madre cujo nome ela não lembrava mais. Lembrava do seu rosto, do seu sorriso amável e do momento que lhe entregou o anel e disse: "Vá com Deus querida. e seja boa". Desde a sua saída, Alice nunca soube se Deus de fato a acompanhou ou se a largou à própria sorte, mas ela sempre teve por preferencia a segunda opção. Mas o anel sempre estava lá. E ela era boa, sabia que era boa. Foi boa com Carlos quando o impediu de descobrir como a última  pessoa que tirou o anel dela encontrou seu fim, foi boa porquê o permitiu ter uma última noite de prazer antes de entregá-lo para a morte. Foi boa porquê permitiu a ele uma morte limpa, sem sofrimento nem dor. "Sim eu fui boa" disse para si mesma enquanto uma lágrima brotava do seu olho esquerdo. Enquanto apagava aquela lágrima do rosto, Alice teve um momento de lucidez quando percebeu que havia entrado num táxi e o motorista não se sabe por quanto tempo olhava para ela como quem já tivesse perguntado: "para onde senhora?". Sem pensar muito e ignorando tudo a sua volta, Alice entregou uma nota de cem. "Dirija", disse. "Apenas dirija". Recostando no banco de trás, ela apenas queria lembrar quão bem seguiu o conselho da velha madre. Foi boa com o primeiro namorado que ensinou a ela tudo que sabia, e quando ela quis ir embora ele não quis deixar e ela tirou dele as correntes que o aprisionavam nesta vida sofrida, foi boa quando deu o primeiro e ultimo beijo de boa noite na mãe recém encontrada num leito de hospital. Foi boa quando mudou seu nome, sua identidade e sua alma para que o mundo desistisse de procurar a menininha que saiu do orfanato e virou uma bela e bondosa mulher que agora reclina e delira no táxi. Ao olhar para o anel lembrou do seu ato de bondade quando o tiraram dela. "Um simples ladrão de bolsa que pesou ter roubado meu coração", lembrou, ficou dois dias em sua casa partilhando da sua cama, da sua comida e do seu chuveiro, "tudo porquê fui boa" então ele viu algo no anel, algum dinheiro e achou merecedor de tudo e simplesmente sumiu como deve ter feito com tantas outras. Alice teve que ser boa de novo, mas não para ele, ele não merecia bondade, era um rompedor de corações e um ladrãozinho qualquer. Tinha que ser boa para os futuros corações quebrados por ele, e para a sua querida madre que lhe dera o anel com tanto amor. Então ela foi boa "boa até demais, talvez tenha exagerado na bondade." havia esquecido de pegar o anel tamanha foi a generosidade. Mas o que importa agora é que tudo passou. Talvez um ultimo ato de bondade com o motorista do táxi que insistia em olhá-la pelo retrovisor. "Talvez" pensou enquanto se reclinava e deixava a mente ir " por enquanto apenas dirija motorista", falou em sua mente, "apenas dirija".  

2 comentários:

  1. Eu realmente acho que o conceito de bondade desta mulher é mais do que um pouquinho distorcido.
    Eu só acho que a madre que deu - lhe o anel não estava falando neste sentido de bondade.
    Pegaram seu anel e tal,mas talvez,só talvez. Não exista a necessidade de sair matando as pessoas assim.Imagine se eu resolvesse meus problemas assim.
    "Querido professor de inglês "Diria eu" Notei que faltaram quatro décimos para eu fechar o teste, mas não se preocupe eu vou ser muito boazinha com o senhor"
    Aí eu pegaria meu canivete e...Bem,não importa né? Não vamos longe demais com as comparações.
    O que eu quero dizer,é que não é assim que assim coisas funcionam. O pobre Carlos parecía até boa gente.
    E o taxista...Bem, é meio que culpa dele.A mãe não ensinou que é feio ficar encarando uma dama?
    Enfim, minha querida Alice, você pode ter um ótimo perfume francês, mas é completamente pirada!
    Ariverdeci!

    ResponderExcluir
  2. KKKKKKKKK. de fato, que bom que não resolvemos nossos problemas assim. Alice encontrou uma forma de resolver seus problemas de maneira "não convencional" vale dizer que ela não é nenhuma heroína ou um modelo de pessoa kkkkkkk. é uma personagem inspirado nas "FEMME FATALE". Isso explica muito!! kkkkk
    Obrigado!! ;)

    ResponderExcluir